Como escrever um livro: um resumo em 7 passos

Sempre sonhaste escrever um livro mas não sabes por onde começar? Experimenta seguir este processo.
Encontra o porquê da tua história
Costuma dizer-se que tudo começa com uma ideia, mas, na prática, o que isto significa é que tudo começa com uma personagem, uma cena ou uma premissa intrigante:
- E se, em adulta, a Pippi das Meias Altas se tornasse uma hacker?
Resultado: Os Homens que Odeiam as Mulheres (Stieg Larsson) - E se colocássemos um stalker assassino numa comédia romântica?
Resultado: Tu (Caroline Kepnes) - E se a morte tirasse umas férias?
Resultado: As Intermitências da Morte (José Saramago)
Sugiro, contudo, que complementes qualquer destas estratégias com a resposta a uma importante questão: porque queres escrever um livro?
Consegues perceber, em termos concretos, o que te atrai no cenário que imaginaste? Como explicas o apelo que o protagonista tem para ti? Porque sentes que tens de passar esta história e não outra qualquer para o papel?
Se conseguires responder de forma honesta a este porquê, estás no bom caminho para descobrir a mensagem da história. A sua razão de existir. E isso poupar-te-á muito tempo no desenvolvimento.
Planeia a tua estrutura
Embora existam notáveis exceções, a maior parte das histórias tende a obedecer a um modelo narrativo bem definido que os leitores compreendem como lógico.
Há várias correntes de pensamento neste campo. Por exemplo:
- Jornada do Herói — Popularizado no final da década de 1940 pelo professor americano Joseph Campbell, este é um modelo que divide as histórias em três grandes segmentos: Partida, Iniciação e Retorno. Mais tarde, o argumentista Christopher Vogler subdividiu a “jornada” em 12 etapas distintas.
- Save the Cat — Criado por Blake Snyder, este modelo defende que as histórias devem ser compostas por 15 pontos narrativos e que cada um deles tem um momento certo para ocorrer. Foi pensado para a escrita de guiões, mas também pode ser aplicado a romances.
- Story Circle — Tendo por base a Jornada do Herói, Dan Harmon, o criador de séries como Community e Rick and Morty, desenvolveu um modelo circular composto por apenas oito pontos narrativos. É um dos modelos mais populares da atualidade.
O objetivo não é obrigar a tua ideia a seguir uma fórmula previsível e pouco original, mas sim perceber se esta já tem todos os elementos necessários para ser compreendida pelos leitores como uma história com princípio, meio e fim.
Define um cronograma

Se não tens um prazo previsto para escrever o teu primeiro rascunho, o melhor é pensares num, caso contrário correrás o risco de ficar eternamente a trabalhar nele.
Começa por responder às seguintes questões:
- Vou escrever todos os dias?
- Quanto tempo reservarei para escrever por dia?
- Aproximadamente quantas palavras prevejo que o meu livro venha a ter?
Para esta última resposta, podes analisar os padrões do mercado para o género literário que pretendes trabalhar. Anota também as dimensões por formato sugeridas pela Science Fiction and Fantasy Writers Association:
- Contos — Até 7500 palavras
- Novelas — 7500 a 40 mil palavras
- Romances — Mais de 40 mil palavras
Vamos a um exemplo concreto.
Imagina que tencionas escrever uma hora por dia, cinco dias por semana, e que estás a apontar para um romance com cerca de 50 mil palavras. Se te comprometeres a escrever 1000 palavras por dia, em dez semanas terás completado o teu primeiro rascunho.
Escreve o primeiro rascunho
Escrever, escrever, escrever. Esta fase resume-se apenas e só a isso. Mas, por favor, procura escrever com o teu “modo de editor” desligado.
O que interessa é passares a história da cabeça para o papel. Não tem de ficar perfeita. Na verdade, o mais provável é que não fique.
Ou, nas sempre sensíveis e delicadas palavras de Ernest Hemingway, “o primeiro rascunho de qualquer coisa é uma merda”.
Deixa-te levar pela criatividade, diverte-te e não te preocupes com os erros. Lembra-te que esta primeira versão da história é mesmo só para ti.
Edita, reedita, reescreve
Em Escrever, um livro que devia ser obrigatório para qualquer aspirante a escritor, Stephen King sai-se, a certa altura, com a seguinte frase:
Escrever é humano, editar é divino.
Tem toda a razão. E é por tiradas como esta que é um dos melhores escritores do mundo.
Depois de teres a história no papel, com todas as imperfeições de que já falámos, vais ter de a revisitar e passar um bom tempo a polir tudo e mais alguma coisa: estrutura, ritmo, linguagem, motivações dos personagens, etc.
“Não posso apenas contratar um editor para fazer isso por mim?”, perguntas tu.
Podes, respondo, mas lembra-te de duas coisas: 1) o manuscrito já deve chegar minimamente trabalhado às mãos do editor; e 2) o editor não vai escrever por ti, apenas te indicará os potenciais pontos a alterar e, eventualmente, poderá deixar algumas sugestões de como o fazer.
Esta é, na minha opinião, a fase mais trabalhosa e demorada de todo o processo, por isso não te precipites e dedica-te à melhor edição de que és capaz.
Sê divino.
Revê tudo de uma ponta à outra

Chegaste a esta fase e, entre a escrita e as múltiplas edições, passaste os olhos tantas vezes pelo manuscrito que não há qualquer possibilidade de ainda ter alguma gralha, certo?
Errado.
É normalíssimo que tenhas deixado passar alguma coisa, até porque tens estado a olhar para o texto com olhos de escritor e editor e não com olhos de revisor.
Palavras mal escritas? Incorreções gramaticais? Problemas de formatação? É a altura certa para leres tudo, de uma ponta à outra, bem devagar, em busca de erros.
Se este não for o teu ponto forte, podes contar com a assistência de um revisor profissional de texto. Mas não perdes nada em fazer também tu uma revisão detalhada a todo o texto antes de seguires para a próxima fase.
Quantos mais olhos, melhor.
Envia o manuscrito
É aqui que o nosso caminho se bifurca, consoante o teu objetivo seja o lançamento do livro através de uma editora tradicional ou através de autopublicação.
Edição tradicional
Se o teu objetivo for a edição tradicional, pega no teu ultrapolido manuscrito e envia-o para todas as editoras que aches que poderão ter interesse na história.
Repara que eu não disse “envia-o para todas as editoras”, mas sim para as potencialmente interessadas.
Escreveste uma história de fantasia ou ficção científica? A Saída de Emergência e a Editorial Divergência são especializadas nesses géneros.
Escreveste um ensaio detalhado sobre física quântica? Talvez não o devas enviar para uma chancela que publique essencialmente livros infantojuvenis.
Um agente literário poderá, nesta fase, dar-te uma boa ajuda, abrindo-te algumas portas, em particular nas maiores editoras nacionais, mas não é de todo impossível que o consigas a solo. Basta estudares o mercado e teres alguma paciência.
Autopublicação
Se o teu objetivo for a autopublicação (por exemplo, através de plataformas como a Amazon), ainda necessitarás de preparar pelo menos uma coisa muito importante antes de avançares para a submissão do teu manuscrito: o design.
Um designer habituado a livros poderá ajudar-te a paginar tudo, caso não te sintas confortável nessa tarefa. Também poderás recrutar um ilustrador para te ajudar com a capa. Depois é “só” seguir os passos da submissão na plataforma pretendida — e avançar para a promoção.
Existe ainda um caminho intermédio no campo da publicação, que são as editoras vanity, como a Chiado Books ou a Cordel d’Prata. Estas editoras oferecem-te apoio na maior parte das tarefas necessárias à publicação, com a diferença, em relação às editoras tradicionais, de que todos os custos serão suportados por ti.
É uma questão de perceberes o que faz mais sentido para as tuas pretensões.
Boa sorte!