|

Quais são os livros mais vendidos de sempre?

Miguel de Cervantes a ler Dom Quixote de la Mancha, um dos livros mais vendidos de sempre

O Alquimista? Crepúsculo? As Cinquenta Sombras de Grey? Nada disso. O livro mais vendido de sempre, sem surpresa ou margem para dúvida, é a Bíblia.

Acredita-se que tenham sido vendidas entre cinco e sete mil milhões desde que, em 1454, Johannes Gutenberg deu início à sua produção em massa. E, mais de meio milénio depois, ainda são impressas cerca de 80 milhões de Bíblias por ano.

Outros livros de cariz religioso e/ou político, como o Corão ou O Pequeno Livro Vermelho, também chegaram a centenas de milhões de pessoas. Mas, tal como acontece com a Bíblia, não sabemos exatamente a quantas, porque durante séculos não houve quem contabilizasse as vendas de livros.

No entanto, se retirarmos estas incontornáveis obras de não ficção da equação, quais são os livros mais vendidos de sempre? E a que conclusões podemos chegar a partir dessa lista? É o que vamos ver a seguir.

Os 10 livros mais vendidos de todos os tempos

Dom Quixote de la Mancha

Miguel de Cervantes

Título original: El Ingenioso Hidalgo Don Quixote de la Mancha
Ano de publicação: 1605 e 1615 (publicado em duas partes)
Vendas estimadas: 500 milhões

Um velho fidalgo castelhano deixa-se deslumbrar de tal forma pelos seus livros de aventura que decide tornar-se, ele próprio, um cavaleiro. O resultado é um dos títulos mais importantes de todos os tempos, amplamente considerado o primeiro romance moderno.

Antes de Quixote, não se contavam as histórias através de múltiplas perspetivas. Não se misturavam, de forma tão descomplexada, diferentes géneros literários. Os diálogos assemelhavam-se mais a trocas de monólogos do que a conversas reais.

Cervantes ousou romper com tudo o que era feito e criar uma sátira que mudou efetivamente a forma como se escrevia. A popularidade de Quixote deveu-se, em grande parte, à sua inovação.

História em Duas Cidades

Charles Dickens

Título original: A Tale of Two Cities
Ano de publicação: 1859
Vendas estimadas: 200 milhões

“Foram tempos magníficos, foram tempos tenebrosos.” Charles Dickens conquista-nos logo na primeira linha do seu livro mais vendido, um de apenas dois romances históricos que publicou.

Centrado num médico francês que se muda para Londres depois de 18 anos preso em Paris, o livro pinta um detalhado retrato sobre as injustiças que conduziram à Revolução Francesa. Fá-lo, contudo, sem nunca perder o rasto ao enredo.

Moral da história: é bom quando a ficção tem algo para dizer sobre o mundo, mas essa mensagem nunca se deve sobrepor à narrativa. 

Ah, e uma frase de abertura forte também faz milagres.

O Principezinho

Antoine de Saint-Exupéry

Título original: Le Petit Prince
Ano de publicação: 1943
Vendas estimadas: 200 milhões

Depois de se despenhar no deserto, um piloto depara-se com um rapazinho de cabelos loiros que afirma vir de um pequeno asteroide longe da Terra.

O impacto cultural desta fábula foi de tal ordem que já nem pestanejamos quando lemos a sua premissa… mas temos de concordar que é uma premissa bem bizarra. E arriscada, em especial no contexto da obra de Antoine de Saint-Exupéry.

Embora nunca tivesse escrito nada do género, o autor decidiu mascarar paixões, medos e reflexões da vida real numa fantasia semifilosófica que nunca se torna inacessível. É nesse equilíbrio que O Principezinho se torna um clássico.

Harry Potter e a Pedra Filosofal

J. K. Rowling

Título original: Harry Potter and the Philosopher’s Stone
Ano de publicação: 1997
Vendas estimadas: 120 milhões

Seis sequelas (ou sete, se contarmos com a adaptação ao teatro) e uns quantos spin-offs depois, a história do jovem órfão que descobre ser um poderoso feiticeiro dispensa apresentações.

Tantos livros depois, quase nem nos lembramos que J. K. Rowling passou por sérias dificuldades para encontrar quem a publicasse. O seu manuscrito original foi rejeitado por 12 editoras diferentes, que alegavam que era demasiado longo para o público infantojuvenil ou, simplesmente, que os livros infantis nunca vendiam bem.

Não há nada de errado em aprendermos os requisitos do mercado para o género literário em que nos movemos. Na verdade, é recomendável que o façamos. Mas a mensagem a retirar da experiência de Rowling é que também não nos devemos curvar demasiado perante eles. 

Se a nossa história for suficientemente boa, o livro haverá de encontrar o seu público.

As Dez Figuras Negras

Agatha Christie

Título original: And Then There Were None
Ano de publicação: 1939
Vendas estimadas: 100 milhões

Com quase tantos títulos como exemplares vendidos — é um exagero, naturalmente, mas só em português já foi publicado como As Dez Figuras Negras, No Início Eram Dez, Convite para a Morte, E Não Sobrou Nenhum e O Caso dos Dez Negrinhos —, este é o mistério mais famoso da inesquecível Agatha Christie. E nem inclui Hercule Poirot!

A premissa é engenhosamente simples: dez pessoas são convidadas para uma casa numa ilha deserta, por um anfitrião desconhecido, e começam a aparecer assassinadas. Não havendo mais ninguém por lá, parece claro que o culpado terá de ser um deles. Mas quem? E porquê?

Agatha Christie puxa pelos galões na forma como planeia este enredo, mas o mais interessante é mesmo a forma como o executa. É que, ao longo do livro, deixa-nos entrar na cabeça de cada um dos personagens — incluindo da pessoa que está a cometer os crimes.

A inovação no formato e o cuidado com que Christie trabalha a linguagem ajudam a perceber o porquê da duradoura popularidade deste livro.

O Sonho da Câmara Vermelha

Cao Xueqin

Título original: 紅樓夢
Ano de publicação: 1791
Vendas estimadas: 100 milhões

Também conhecido como A História da Pedra, este é um dos livros mais aclamados da literatura chinesa — mas também um dos mais complexos.

Acompanha uma poderosa e influente família de Pequim e, em particular, Jia Baoyu, um jovem revoltado com as convenções sociais da época, que se apaixona pela sua prima, Lin Daiyu. 

Este é, contudo, um resumo excessivamente simplista deste épico, que incorpora um elevadíssimo número de tramas, personagens e até alguma fantasia.

Impresso pela primeira vez quase 30 anos após a morte de Cao Xueqin, é um livro que contraria a perceção generalizada de que as narrativas simples são as únicas capazes de agradar às massas.

Sim, é importante que um escritor de primeira viagem não complique demasiado a sua narrativa, mas há histórias que provam que o mais simples não é sempre o melhor.

O Hobbit

J. R. R. Tolkien

Título original: The Hobbit
Ano de publicação: 1937
Vendas estimadas: 100 milhões

“Num buraco no chão, vivia um hobbit”, começa por nos explicar Tolkien, e em apenas sete palavras deixa claro o que torna este clássico infantil um dos livros mais populares de sempre.

Na época em que foi escrito (e mesmo depois), os heróis dos livros de aventuras eram seres poderosos, destemidos e sem fraquezas aparentes. Uma espécie de divindades. Mas Tolkien apresenta-nos aqui um herói que não poderia ser mais diferente desse retrato: é pequeno, fraco e até ligeiramente apático.

É também o tipo de personagem com o qual todos os leitores se conseguem identificar. Em especial quando as suas debilidades são balanceadas por um bom coração e a coragem para fazer o que precisa de ser feito.

Para conquistar muitos leitores, nada melhor do que um protagonista com fraquezas evidentes e um forte sentido moral. Mesmo que este viva num mero buraco no chão.

O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa

C. S. Lewis

Título original: The Lion, the Witch and the Wardrobe
Ano de publicação: 1950
Vendas estimadas: 85 milhões

É natural que o primeiro volume publicado d’As Crónicas de Nárnia se debruce tanto sobre perseverança, tendo em conta que foi um livro que levou mais de dez anos a ser lançado.

C. S. Lewis escreveu um primeiro rascunho do seu clássico infantil em 1939, para transmitir força às crianças que se preparavam para viver um período especialmente difícil da História, mas, quando o mostrou a amigos, recebeu tantas críticas que acabou por destruir o manuscrito.

A ideia de um mundo paralelo repleto de criaturas mitológicas permaneceu, contudo, com ele. Após alguns anos, regressou à história para a reescrever. Acabou por publicá-la, em 1950, com o sucesso que se conhece.

Lewis mostrou que, quando se está convicto do que se quer escrever, desistir não é opção. Até pode ser que à primeira as coisas não saiam bem, mas as boas ideias podem sempre ser trabalhadas. Basta alguma paciência.

She

Rider Haggard

Título original: She
Ano de publicação: 1887
Vendas estimadas: 83 milhões

Embora seja hoje mais conhecido pelo clássico As Minas de Salomão, foi She o grande sucesso da carreira do inglês Henry Rider Haggard.

Nesta história, seguimos um jovem e o seu tutor numa turbulenta aventura pelo continente africano, rumo às catacumbas do reino de Kôr, onde o povo local é governado por uma feiticeira imortal conhecida como She.

Ao contrário dos seus contemporâneos, que procuravam aproximar-se o mais possível da realidade, Haggard via a literatura como uma forma de entretenimento e escapismo. A sua criatividade, neste livro, ajudou a cimentar um novo subgénero da ficção, centrado em aventuras por lugares remotos e inexplorados do mundo.

Código Da Vinci

Dan Brown

Título original: The Da Vinci Code
Ano de publicação: 2003
Vendas estimadas: 80 milhões

O único título do século XXI entre os dez livros mais vendidos de todos os tempos é também, possivelmente, o livro mais controverso desta lista.

Críticas e acusações à parte, a verdade é que popularizou um novo subgénero de thrillers dedicados à investigação de conspirações, bem como uma estrutura narrativa que haveria de se tornar dominante entre os bestsellers modernos: capítulos curtos, cliffhangers dramáticos e reviravoltas constantes.

A ação envolve uma investigação à lenda do Santo Graal, levada a cabo pelo simbologista Robert Langdon e pela criptologista Sophie Neveu.

Que lições retiramos daqui?

A popularidade é uma questão de contexto, exposição e, sejamos francos, de alguma sorte. Mas também de talento. E, quando analisamos os livros mais vendidos de sempre, percebemos que todos envolveram uma certa dose de risco por parte dos seus autores.

Se assimilarmos as bases do que constitui uma boa história, entranhando-as como se fizessem parte de nós, e ousarmos depois fazer diferente do que já existe no mercado, mantendo sempre um foco firme no enredo e nos personagens, estamos no bom caminho para desenvolver um livro de sucesso.

Não duvides: uma boa dose de inovação e criatividade pode levar-te muito longe.

Precisas de um editor ou de um revisor para te ajudar com o teu manuscrito? Entra em contacto comigo.

Similar Posts