Edição tradicional vs. autopublicação: vantagens e desvantagens
Um dos maiores dilemas entre os autores que acabam de escrever os seus primeiros livros é como os deverão publicar. Através da edição tradicional ou da autopublicação?
Por edição tradicional entende-se a publicação do livro através de uma editora. Neste caso, o autor tem apenas de enviar o seu manuscrito e é a editora que gere o processo subsequente, sem custos para o autor.
Por sua vez, a autopublicação refere-se ao processo através do qual o autor assume todas as responsabilidades pela edição do livro, incluindo a contratação de freelancers, vanity presses ou serviços digitais.
Neste artigo, vou procurar resumir algumas das principais vantagens e desvantagens de cada uma destas estratégias. Assumirei como suporte, em certos campos, o magnífico Como Publicar o Seu Livro?, de Rita Canas Mendes, que considero o melhor e mais completo livro sobre a realidade editorial portuguesa.
No final, deixarei também algumas questões importantes que devem ser consideradas pelos autores quando decidirem a estratégia a adotar.
Vamos começar?
As Vantagens da Autopublicação
A autopublicação tem-se tornado uma opção cada vez mais popular, em especial entre autores que não se importem ou até prefiram assumir responsabilidades além da escrita. Entre as principais vantagens da autopublicação encontramos:
Maior Controlo
Na autopublicação, os autores têm controlo total ou quase total sobre todos os aspetos do livro, desde a edição e design da capa até ao preço de venda e à distribuição.
Isto significa que o autor pode escolher a sua própria equipa de profissionais para o ajudar no processo ou assumir todas as tarefas sozinho.
Significa também que não está sujeito à aprovação de terceiros e que se pode posicionar no mercado da forma que bem entender.
Royalties mais elevados
Ao publicar um livro por conta própria, o autor mantém todos os direitos sobre ele, o que significa que poderá receber uma percentagem maior dos lucros do que receberia se tivesse um contrato com uma editora tradicional.
Embora a autopublicação compreenda encargos iniciais, o que não acontece na publicação tradicional, o autor pode receber até 100% das receitas — e, em certos casos, de forma instantânea.
Publicação mais rápida
Os escritores que escolhem a autopublicação têm a possibilidade de publicar os seus livros em muito menos tempo do que numa editora tradicional.
Isto é especialmente importante para autores que desejem explorar rapidamente um determinado tema ou género em voga.
As Desvantagens da Autopublicação
Apesar dos benefícios, a autopublicação também compreende riscos que devem ser levados em conta pelos escritores. Eis alguns exemplos:
Demasiadas responsabilidades
Se o controlo total sobre o processo pode ser uma importante vantagem da autopublicação, a verdade é que também pode ser um grande inconveniente.
O autor é obrigado a assumir a responsabilidade por todas as tarefas, incluindo edição, revisão, design da capa, paginação, impressão, distribuição, marketing e promoção.
Isto pode ser esmagador para muitos escritores, em particular aqueles que não têm já alguma experiência em marketing ou na área editorial.
Fraca visibilidade
Os livros autopublicados têm, regra geral, uma fraca visibilidade nas livrarias físicas, que tendem a preferir trabalhar com editoras estabelecidas.
Resultado: podem ter sérias dificuldades em chegar a um público amplo.
Se os leitores não conhecem ou encontram o livro, as vendas são forçosamente reduzidas e o investimento inicial torna-se difícil de recuperar.
Concorrência desnivelada
Os livros autopublicados não disputam a atenção e o interesse dos leitores apenas entre eles. Também têm de concorrer com os livros das editoras tradicionais, que tendem a ter um maior investimento por trás.
Pode uma edição de autor destacar-se de um livro tradicional, elaborado por alguns dos mais experientes profissionais da área? Pode. Mas parte, com toda a certeza, em desvantagem.
Dicas para uma autopublicação de sucesso
É certo que a autopublicação apresenta desafios, mas foram muitos os escritores de sucesso que recorreram a esta estratégia para se lançarem, como Colleen Hoover, Andy Weir ou Rupi Kaur.
Eis algumas dicas para maximizar as possibilidades de uma autopublicação de sucesso:
Não tentes fazer tudo sozinho
Embora a autopublicação permita que o autor tenha um maior controlo sobre o processo de publicação, isso não significa que este deva lidar com tudo sozinho.
Contratar profissionais para tarefas específicas, como edição, revisão ou design, pode ajudar a garantir que o livro saia com mais qualidade e consiga um maior alcance.
Escolhe a plataforma certa
Hoje em dia, existem várias plataformas de publicação disponíveis e é importante escolher a que melhor atende às necessidades específicas de cada autor e livro, considerando fatores como comissões, distribuição global e apoio ao cliente.
A mais famosa será possivelmente a Kindle Direct Publishing, da Amazon, mas também existem a Kobo Writing Life ou a Draft2Digital, e, em Portugal, a Bubok ou a Escrytos.
Investe em marketing e promoção
A promoção é importante para qualquer livro, mas especialmente para os livros autopublicados, que muitas vezes têm menos visibilidade no mercado.
Investir em estratégias de marketing, utilizar eficazmente as redes sociais e aproveitar todas as oportunidades para promover o livro em canais especializados pode ajudar a aumentar a visibilidade e as vendas.
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As Vantagens da Edição Tradicional
Embora a autopublicação seja uma opção cada vez mais popular entre os escritores, a verdade é que a edição tradicional ainda oferece muitos benefícios que, à partida, não estão ao alcance da autopublicação. Eis alguns dos principais:
Maior visibilidade
As editoras tradicionais têm tipicamente uma ampla rede de contactos que lhes permite colocar os livros que publicam nos principais pontos de venda do país (e, em certos casos, fora dele).
Podem também, com alguma facilidade, exercer esforços promocionais junto aos leitores e meios de comunicação especializados, o que resulta numa maior visibilidade em comparação com a autopublicação.
Recursos especializados
As editoras tradicionais possuem equipas de profissionais experientes que trabalham todas as etapas do processo de publicação, incluindo edição, revisão, paginação, design, marketing e distribuição.
Na teoria, isto assegura que os livros publicados desta forma têm um elevado nível de qualidade e rigor que pode ser difícil de alcançar com a autopublicação. Com a adição de que os autores não têm de investir tempo ou dinheiro em nenhuma destas tarefas.
Prestígio
É uma ideia que parece estar gradualmente a mudar, mas por enquanto os livros publicados por editoras tradicionais continuam a ser vistos como mais “merecedores” do que os livros autopublicados.
Além de que, para um autor (e, em particular, um novo autor), pode ser importante estar integrado num catálogo de escritores mais conceituados.
As Desvantagens da Edição Tradicional
Embora a edição tradicional ofereça muitos benefícios, também existem alguns inconvenientes importantes que deves considerar antes de decidires qual é a melhor opção de publicação para ti. Aqui estão alguns dos principais:
Menos controlo
Ao optar pela publicação tradicional, o autor precisa de ceder uma boa quantidade de controlo sobre o processo editorial.
É à editora que cabe a maior parte das decisões — a capa, o título, a data de lançamento, a estratégia de comunicação, etc. — e isso pode significar que a versão final do livro pode não ser exatamente a que o autor tinha em mente.
Menores royalties
De acordo com Rita Canas Mendes, a percentagem de royalties que cabe aos escritores em Portugal anda algures na casa “dos 0 aos 20%”, situando-se geralmente “em torno dos 10%, conforme a importância do livro e do autor”.
Além disso, é a editora que fixa o preço do livro, os rendimentos tendem a ser pagos de forma espaçada (uma ou duas vezes por ano) e a maioria das editoras deixa de promover os livros quando termina o efeito de “novidade”.
Maior competição
Com tantos autores desejosos de serem publicados, pode ser complicado ter um manuscrito aceite por uma editora tradicional.
Adicionalmente, as editoras costumam trabalhar com vários autores em simultâneo, pelo que o tempo dedicado a cada um pode ser bastante limitado.
Dicas para uma Edição Tradicional de Sucesso
Se decidires que a publicação tradicional é a melhor opção para o teu livro, existem alguns cuidados que podes ter para maximizar as chances de sucesso.
Faz uma pesquisa profunda do mercado editorial
Antes de enviares o teu manuscrito, investe algum tempo numa pesquisa às editoras que operam no mercado.
Familiariza-te com as que publicam livros de novos autores, no mesmo género do teu, consulta as suas diretrizes de submissão e certifica-te de que o teu manuscrito cumpre todos os critérios exigidos.
Em alternativa, podes considerar contratar um agente literário que te ajude no processo de submissão.
Certifica-te de que o manuscrito está devidamente polido
A concorrência no mercado editorial é muito elevada, por isso é essencial que o teu manuscrito chegue às mãos de quem tem de chegar no melhor estado possível.
Considera seriamente contratar um editor para rever o teu manuscrito e, eventualmente, fazer sugestões de melhoria.
Tira partido das tuas plataformas
Atualmente, as editoras tradicionais tendem a valorizar (muito) os autores que possuam uma plataforma sólida de leitores e seguidores.
Se tens jeito para isso, tira partido das tuas redes sociais. Também podes criar um site de autor ou participar em eventos literários para te fazeres notar no mercado.
Sê paciente
É possível que recebas várias rejeições antes de conseguires um contrato de publicação. Não desanimes. Se necessário, aproveita o tempo de espera para continuar a aperfeiçoar o manuscrito enquanto o envias para novas editoras.
Além disso, também o próprio processo de publicação tradicional pode ser demorado, pois a editora pode ter outras prioridades de lançamento no calendário. Mais uma vez, não desesperes. Mantém a comunicação aberta com a tua editora e… sê paciente.
Como escolher a melhor opção de publicação para o teu livro
Decidir qual é a melhor opção de publicação para um livro pode não ser uma tarefa fácil, visto que as duas estratégias têm claras vantagens e desvantagens.
Em Como Publicar o Seu Livro?, Rita Canas Mendes defende: “Uma vez que o mercado está inundado de títulos e a concorrência é feroz, recomendo a edição convencional na maioria dos casos, pois ela tende a proteger e a ajudar o autor. Se, contudo, a sua personalidade, o livro que tem em mãos ou outras circunstâncias o conduzirem para a autoedição, essa é uma alternativa igualmente válida.”
Se, ainda assim, não consegues escolher um lado, eis algumas questões que deves considerar na decisão entre autopublicação e publicação tradicional:
Quais são os teus objetivos?
O teu principal objetivo é ter um maior controlo sobre o processo de publicação e o objeto final? Tens a ambição de lucrar mais do que 10% com as vendas do livro? Então a autopublicação poderá ser a melhor escolha para ti.
Pretendes, acima de tudo, uma maior visibilidade e alcance no mercado? Então a edição tradicional poderá ser a melhor opção.
Quanto estás disposto a pagar?
A menos que tenhas o objetivo de publicar uma edição de autor “pura”, onde fazes tudo sozinho do início ao fim, todas as modalidades de autopublicação envolvem custos.
Talvez precises de contratar profissionais para tarefas específicas, como edição, design de capa ou marketing. Talvez recorras a plataformas digitais para imprimir o teu livro. Talvez te associes a uma vanity, ou seja, a uma editora que publica o livro a troco de um pagamento, como a Chiado Books ou a Cordel d’Prata.
Seja como for, a autopublicação custa dinheiro. Ao contrário da publicação tradicional, que não envolve custos para o autor, embora pague menores royalties.
Quanto tempo e esforço estás disposto a investir?
Enquanto a edição tradicional envolve forçosamente a ajuda de profissionais experientes, mesmo que isso implique que terás um menor controlo sobre o resultado final, a autopublicação exige que assumas a responsabilidade em todas as etapas do processo de publicação.
Pode significar um esforço significativo de tempo e energia. Estás disposto a isso?
